Freguesia de curioso nome,
situa-se a vinte e dois quilómetros da sede de
concelho, muito perto da margem direita do rio Sabor.
É composta pelos lugares deGralhós (foi
freguesia independente até 1839) e de Talhinhas.
Situada num fértil vale, encontra-se a mais de
quinhentos metros de altitude.
A proximidade de Castro Roupal – nome apesar
de tudo germânico – e de Izeda permitem
indiciar para esta freguesia um povoamento muito remoto,
sem qualquer dúvida pré-histórico.
Assim, é bem provável que em Talhinhas
tivesse existido um castro da época dos povoadores
lusitanos, do qual não resta, no entanto, qualquer
vestígio. De resto aparaceram no termo de Talhinhas,
há alguns anos, diversos objectos do tempo dos
romanos – cacos, telha de rebordo e algumas moedas,
provas suficientes do remoto povoamento desta freguesia.

O topónimo latino Talhinhas é um diminutivo
de Talhas, da mesma freguesia. Refere Cândida
Florinda Ferreira em relação ao nome da
Freguesia: “Talha, donde o diminutivo Talhinhas,
significa como aponta Viterbo e facilmente se conclui
dos documentos adiante transcritos: contribuição
colecta, exacção, que se lança
por cabeça, e na qual todos os coutados, segundo
os seus respectivos cabedais, e haveres”.
No entanto, não se pode dizer que Talhas fosse
a sede paroquial e tivesse criado uma outra paróquia,
sua filial. Ao contrário do que sucede bastas
vezes com as terras de topónimo diminutivo de
outras, Talhinhas é muito antiga, mais ainda
que Talhas, e a sua erecção paroquial
já se tinha dado nos inícios do século
XIII.
Segundo as Inquirições de 1258, em que
a freguesia já é citada, Talhinhas é
uma das “villa cognitae forarie de quibus faciunt
sibi fórum in terra de Bragancia, com suo termino”.
Ainda segundo o mesmo documento, pertencia ao rei uma
parte da igreja paroquial, dedicada nessa altura a Santa
Maria. A ordem do Templo, vulgo templários, era
uma das maiores proprietárias na freguesia.
Talhinhas estava nesta altura integrada na chamada
Terra de Lampaças, que dai a pouco tempo iria
ser extinta e dar lugar a uma série de circunscrições
administrativas mais pequenas. Quanto a Talhinhas, iria
passar para a terra de Bragança.
Tradução do documento
original da Inquirição a Talhinhas,
reinado de D. Afonso III - 1258
Começa a paróquia de Santa Maria
de Talhinhas e recusa então o Abade vir
dar testemunho.
Martim Garcia de Talhinhas; jurado e interrogado
disse que sabe que esta igreja é por hereditariedade
foreira ao senhor Rei e os homens da dita vila
nomeiam o seu abade o que assim têm por
costume; e disse que os homens desta vila deram
esta igreja desta vila por hereditariedade como
foreira ao senhor Rei no tempo do justo irmão
do Rei D. Sancho e não deu então
foro mas deram aquele foro que remanesceram em
herança daqueles que deram por hereditariedade
a dita igreja; e sabe que o concelho de Bragança
deu a terça da vila de Talhinhas que era
toda foreira à Ordem do Templo nos dias
do justo irmão do Rei D. Sancho; e sabe
que depois os homens desta vila tiveram a sua
terça e davam então foro ao senhor
Rei e só vieram os freires do Templo nos
dias do justo Rei e filharam a sua terça
da sua vila por força e não deram
então foro ao senhor Rei.
Garcia Fernandes de Talhinhas; jurado e interrogado
disse o que ouviu dizer aos homens que sabiam,
assim como disse Martim Garcia.
André Domingues de Talhinhas; jurado e
interrogado disse assim como Martim Garcia; e
disse mais que sabe que a vila de Moraes era toda
foreira ao senhor Rei e porém não
tem agora metade porque Nuno Martins de Chacim
comprou outra metade no tempo do Rei justo e não
deu então foro ao senhor Rei; e sabe que
Vilares de Peredo e de Talhas eram reguengos e
filharam-lhe Nuno Martins de Chacim e outros cavaleiros
no tempo do Rei justo e não lhe deu então
foro.
João Peres de Talhinhas; jurado e interrogado
disse o mesmo que André Domingues.
Miguel Peres de Talhinhas; jurado e interrogado
disse o mesmo que André Domingues.
Traduzir do Latim por: Associação
Terras Quentes
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A primeira informação demográfica
que temos sobre esta freguesia é de 1706. Segundo
a “Corographia” do Pe. António Carvalho
da Costa, daquele ano, viva aqui cerca de 120 pessoas,
já que existiam 40 fogos. Em 1860 a população
crescera e o número de habitantes ultrapassava
já os 300. Ao longo deste século, o número
de habitantes continuou a crescer, embora a certa altura
esse fenómeno se tenha invertido devido a emigração.
A primitiva igreja paroquial desta freguesia deve
ter sido construída no século X pelo bispo
Astorga. Ainda no século XIX, a casa de Bragança
apresentava o abade de Talhinhas, que tinha rendimento
anual cerca de trezentos mil réis, quantia deveras
significativa para a época. Pertenceu a Izeda
até 1855 e a Macedo de Cavaleiros a partir daí.

A cultura deste povo é muito rica. A etnografia,
que faz parte aliás do património cultural
do povo, está em Talhinhas pejada de referência
aos mouros e à sua passagem por aqui. Um rochedo
situado no extremo da freguesia é conhecido entre
a população com forno dos mouros. É
assim designado porque se assemelha àquele objecto.
A abertura é muito estreita e permite a entrada
a uma criança ou então quem quiser entrar
de gatas. No interior, torna-se muito largo, ao ponto
de nele caberem vinte pessoas. Diz o povo que por aqui
passaram os mouros, deixando algures escondidos os seus
tesouros de muitos dinheiros.

A agricultura foi sempre a principal actividade desta
população. A cultura do vinho foi uma
das que assegurou desde há vários séculos
a sobrevivência da população. Um
documento de 1790, por exemplo, concedia aos moradores
de Talhinhas licença para vindimarem suas vinhas
sem autorização da Câmara Municipal
de Bragança.
De
Talhinhas, também saíram entidades que
contribuíram na história do nosso País
das quais se destaca Cândida Florinda Ferreira.
Esta senhora nasceu na aldeia de Talhinhas em 24 de
Junho de 1893 tendo estudado no Porto, em Vila Real
e em Lisboa. Em 1912 concluía o curso do Magistério
Primário, que lhe permitiu exercer o ensino em
Talhas, Caçarelhos e em Bragança. Também
leccionou na Escola do Magistério de Bragança
e na Primária Superior, de onde saiu, em 1927,
para frequentar a Universidade de Lisboa. Em 1930 obteve
uma bolsa de estudos para cursar Literatura Italiana,
em Perúgia. Defendeu a tese de doutoramento entre
13 e 16 de Janeiro de 1937, onde o Presidente do Júri
fez saber que era a primeira senhora Portuguesa que
obtinha as insígnias doutorais.

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