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Voluntária espiritana oriunda de Gralhós na Guiné

Quando penso que já se passaram três meses desde que deixei a Guiné, terra que me acolheu durante um ano, fico assustada com a rapidez com que o tempo passa. O mesmo se passou com este ano de voluntariado. No início até parecia muito, mas quando cheguei a meio do ano tive a desconcertante sensação de estar quase a acabar. Tudo isto me levou a querer dar-me ao máximo no dia a dia, em cada pequenina tarefa. Apesar disto, fica sempre a interrogação: será que poderia ter feito mais? Neste momento posso afirmar que me sinto feliz e realizada por tudo o que vivi. A minha vivência na Guiné foi muito mais um testemunho de presença. Dei de mim no que fazia, mas também, e acima de tudo, em tudo o que vivi com o povo Manjaco. A minha postura foi-se alterando ao longo do tempo. Fui abandonando a minha maneira de pensar para estar mais atenta à forma de estar e viver daquele povo que me acolheu. Fui ultrapassando as minhas expectativas para perceber melhor quais eram as suas necessidades. Fui deixando a postura de estrangeira porque eles me recebiam com todo o carinho.
A força de Cristo que nos leva a arriscar, é a mesma que nos leva a perseverar nesta estada longe de tudo e de todos. Foi na capela da nossa casa que encontrei o local para o recolhimento com Deus. A paz interior ganha nos momentos de oração, quer individual quer comunitária, dava-me o alento para o quotidiano. O viver em comunidade com as Irmãs Espiritanas foi importante e um valioso suporte para mim. Na partilha de experiências encontrava resposta a algumas interrogações, que necessariamente tinha acerca de tudo o que via e vivia. Talvez nunca consiga agradecer-lhes, da forma como merecem, por tudo o que fizeram por mim e pela maneira como abriram a sua casa e os seus corações à minha presença.
O trabalho realizado pode-se resumir à escola e à pastoral. Mas as palavras ficam sempre aquém de toda a maravilha vivida. Todos estes momentos se transformavam em oportunidade de partilhar a riqueza do encontro de duas culturas totalmente diferentes. Ao mesmo tempo que eu tinha curiosidade sobre a cultura manjaca, também eles tinham interesse e perguntavam sobre a cultura europeia. Foram momentos bonitos que me fizeram sentir muito feliz. Foi o estar com as pessoas, o visitá-las nas suas casas, o partilhar as suas canseiras e as suas esperanças, que me fez sentir bem próxima deles.
Vivi este ano na Guiné-Bissau guiada pela esperança. Esperança nas sementes lá deixadas pelos missionários que lá entregam toda a sua vida. Acredito que elas vão germinar, e no futuro aquele país poderá contar com novos homens e mulheres esclarecidos, prontos a lutarem pelo desenvolvimento e pela justiça.
Eu, pessoalmente, sinto-me muito mais rica por toda esta dinâmica que se gera entre o dar e receber. As saudades já se fazem sentir. Das crianças a chamarem-me “irmã” enquanto subiam para o meu colo ou se punham a esfregar os meus braços (para perceber se a minha cor era verdadeira), dos mais velhos a chamarem-me “nababo” (branco/estrangeiro na língua manjaca), dos “bons-dias” que trocava com os mais idosos e logo em troca recebia um sorriso. Relembrar tudo isto volta a colocar nos meus lábios um doce sorriso de agradecimento ao Pai por tudo o que vivi.
Agora o meu desejo é por em prática uma das mais importantes e mais simples lições que retiro desta vivência. Tudo o que fazia “lá” posso fazer “cá”. Só é preciso colocar em tudo o mesmo espírito de disponibilidade, humildade, solidariedade e de amor.

Cátia Asseiro